No começo desta semana, a ciência (principalmente a física) foi sacudida por mais uma das grandes descobertas dos últimos anos, comparável à detecção do Bóson de Higgs: um time do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, utilizando o BICEP2, um “observatório” no pólo sul, capturou sinais de ondas gravitacionais na radiação cósmica de fundo, com uma certeza de mais de 99,9% (porque é assim que se mede a validade de descobertas na astronomia e na física).
Esta detecção é de soberana importância para a cosmologia, porque ela limitará nossas suposições sobre como o universo era nos seus primeiros momentos (na escala de bilionésimos de bilionésimos de bilionésimos de milionésimos de segundo, ou ~1E-34 s para os mais íntimos). Isso significa que, se antes nós tinhamos, por exemplo, uma dúzia de diferentes teorias que tentavam explicar as feições observadas no universo, agora temos apenas meia-dúzia (os números reais são diferentes, mas é por aí). Cosmologistas que estudam os mais remotos períodos do universo mais se assemelham a uma matilha de lobos a encurralar sua relutante presa, o entendimento. Neste caso, a presença das ondas gravitacionais é um indicativo de que o universo passou, de fato, por um período inflacionário.
Na falta completa de um pingo de certeza, alguns cosmologistas que veem a situação pelo ângulo do copo meio cheio preferem aproveitar para se divertir e jogar enquanto os pós-graduandos fazem o trabalho duro: com esta descoberta, Stephen Hawking declarou ser o vencedor da aposta que fez Neil Turok, University of Cambridge.
Mas eu queria chamar sua atenção para a reação do Professor Andrei Linde, University of Stanford, quando recebeu, pelos lábios de seu assistente, o Professor Chao-Lin Kuo, a notícia de que a sua teoria da inflação, proposta inicialmente por ele, havia sido confirmada:
“Apenas espero que não seja um engano. Eu sempre me preocupo com este sentimento. E se eu estiver sendo enganado? E se eu acredito nisto apenas porque é bonito?”
Se há uma onda ainda mais incrível do que estas serenas perturbações na fábrica do espaço-tempo, eu diria que é esta inundação de humildade refletida nos comentários e nos olhos do Prof. Linde. Em uma comunidade científica onde muitos indivíduos sacrificam a sanidade pessoal e de suas ideias em uma busca a qualquer custo pelo respeito e a admiração, é inspirador conhecer alguém que ainda mantém esse comportamento quase que inocente, como se ainda fosse uma criança a experimentar com o mundo a sua volta.
O artigo em formato pre-print (antes de ser peer reviewed) pode ser lido no arxiv.